O que é estranho em todos os nossos dilemas pessoais é a hipocrisia, a modéstia deslavada de nós mesmos e o fato de você não pensar em mim como eu penso em você. A raiva que eu tenho da tua existência, da régua que você mede as minhas palavras com as tuas, já que tudo que você cospe é para desmerecer o que quer que eu diga, se quando para ti dois com dois são quatro e eu digo que são 3.
Odeio você como você é, politicamente correto e bem vestido, de boa paciência e bem nascido quase feito para amarrotar. Odeio quem sou quando estou contigo mas, a culpa é sua pois, me força! Eu não sei quem sou quando corto minha fé e gentileza e me ponho em guerra sempre que você fala comigo, argumentativa e nazi-gramática numa catástrofe de emoções que deduram a minha postura falsa.
Praguejo o teu poder sobre-humano de enxergar através de mim, maldição, quando sabes que grito bem no meu interior num canto que só você ouve que tudo que quero é o que posso te dar e eu queria dar-te colo. Te dizer que tudo está bem quando acaba bem. Queria adormecer todas as tuas inquietações, dar conta de todos os teus medos, decepar a loucura que desliza em ti.
Queria te garantir que, comigo por perto, nada ninguém nunca poderá te fazer mal, que pode fechar os olhos, descontrair os músculos e fingir para os outros que és tu. Queria te dizer que sei que está em algum lugar dentro de ti e que esse invólucro que apresenta é apenas uma pele seca que mais cedo ou mais tarde largará pelo caminho, quando me souber lá na frente à tua espera sorrindo para o que quer que sejas, pois sou satisfeita com o que és e não com o que esperam de ti.
Que eu seria para você tudo o que a todos pensam, que não precisam ficar preocupados que estão com a aritmética simples da sobrevivência nessa tua idade de provar sabores mas, só tu descobriria que eu seria simples e confortante, eu seria mulher. Sentindo tua falta muito mais do que um “To com saudades”. Alguém que a qualquer momento você ligaria de um cartão telefônico num momento de urgência e diria: “Eu tenho alguns segundos, fala comigo até eu ficar bem?” E eu não saberia se iria gostar mais de ser a primeira opção ou da parte de te fazer bem em alguns segundos. E ter todas as memórias além de um ao outro, sem o resto do mundo nunca entender.