Os verdes dos seus olhos eram um mistério. Eu sempre pensei que o misterioso e o proibido teriam uma paleta diferente de cores, talvez o calor de um vermelho mesclado com um cinzento indefinível, como uma lareira manchada pelas cinzas da maneira corroída.
Mas eram verdes. O seu tom de verde.
O verde da floresta, do selvagem e desconhecido. Eu nunca havia saído do meio urbano, do conforto das paredes de concreto dos prédios, ruas asfaltadas com iluminações artificiais e das facilidades dos centros, então poderia falar com propriedade que seus olhos não tinham nada disso. Não havia facilidade, inexistiam traços caóticos tão comumente associados às grandes cidades. Havia algo de paz e calmaria, sem pressa, sem medo de perder o relógio.
Era o retrato de uma selva, com harmonia em cada ponto, em cada olhar. Havia brilho, como se frestas de luz tivessem conseguido alcançar sua íris e permanecido, repousando em silêncio. Um toque de melancolia e incompreensão constante, suave, perceptível apenas para aqueles que tiveram coragem de atravessar a primeira camada, a mais superficial. E como qualquer floresta não desbravada, existia incógnita, a sensação de que jamais saberá tudo. Talvez, por nem ele mesmo saber.
Existiam lágrimas não derramadas, dores não compartilhadas e sentimentos não ditos. Não se tratava de escuridão e trevas, apenas raízes que construirá para tentar sobreviver, continuar. Mas meus ombros já sentiram sua fragilidade, assim como ele sentiu a minha.
E, claro, havia amor ali também. Felicidade e amor. Uma felicidade mais genuína do que um poderia ser demonstrado com movimentos articulados e um sorriso plástico. Suave como as pequenas rugas que se formavam entorno dos olhos.
O verde também era amor. Um amor latente que me surpreendia cada vez mais, sem necessidade de palavras. Apenas o modo como ele olhava para mim, como me compreendia. O modo como a riqueza imensurável daquelas esmeraldas me fixavam antes que seus lábios se encontrassem com os meus, fazendo-me desaparecer naquele minuto eterno.
Como disse, era uma típica garota urbana. E eu sempre soube que me perderia na primeira vez que tivesse coragem de entrar em uma floresta.
E eu tinha razão. Perdi-me no verde selvagem dos seus olhos.
E quer saber? Jamais quero ser encontrada.