Qualquer um poderia dizer que seus olhos eram comuns, que mais da metade da população mundial tinham exatamente o mesmo pigmento e profundidade, com contornos tão regulares e iguais. Matemáticos usariam seus cálculos loucos e indecifráveis para afirmar sua pouca singularidade, usando bases que sinceramente, não me importava nem um pouco.
Para mim e para sempre seus olhos eram únicos. Especiais.
As melhores coisas do mundo são do tom de seus olhos. O chocolate quente e doce que esfumaça no frio de uma sala. Creme de avelã sobre um pedaço recém- assado de bolo em um prato. A casca do carvalho, ardendo com o cheiro do declínio de março. A capa da minha versão vetusta de Romeu e Julieta, empilhada no lado da minha cama como se estivesse fundido pela eternidade. A cor dos fios de seus cabelos, despejando sobre suas sobrancelhas arqueadas. Terra molhada com poças de uma tempestade que se partiu. O calor da madeira sobre o fogo, aquecendo a lareira como um coração apaixonado. O casaco que despejou sobre meus ombros enquanto esquentava meus lábios. A capa do caderno que escrevi pela primeira vez que estava apaixonada por você.
A cor dos seus olhos.
Seus olhos escuros. Lindos.
Se a sinceridade fosse ter uma cor, seriam os seus olhos. Se minha felicidade fosse pintada em um quadro tenho certeza que o artista teria que usar a exata cor que ele reflete.
Se fosse pintar o futuro, seus olhos seriam minha inspiração.
Todo dia. Todo momento. Todo segundo.
A cor que me salvaria. A cor que me resgatava da solidão. A cor da esperança de um futuro a dois.
A cor de algo que não seria passageiro. A cor de um tempo que gostaria que fosse eterno.
Eu queria dizer mais alguma coisa, declarar-me com mais palavras do que seria capaz de dizer, mas eu estava mergulhada neles agora mesmo, infiltrada em um caminho sem volta. Emaranhada no inigualável castanho com o perfume da harmonia, o paladar da sua boca nem um pouco reticente.
Mergulhada em uma única cor…
Castanho.