Existiu, por volta do ano de 1480, num povoado próximo de Nápoles, um garoto chamado Vincenzo Sannazaro. Seu nascimento encontrou muitas dificuldades para acontecer, pois seu pai, Giuseppe, de uma família muito pobre, não obteve grande sucesso na colheita daquele ano, devido às intempéries do tempo, e portanto não teve recursos para alimentação e roupas. Rosa, mãe de Vincenzo, teve pouco a oferecer ao menino, que nasceu prematuro, com 7 meses de gestação.
Os primeiros meses foram muito difíceis para o garoto, que muitas vezes encontrava no colo de sua mãe um refúgio do frio e da fome. Algumas noites não havia o leite para beber, e Giuseppe esquentava um pouco de água e misturava com ervas adocicadas para dar a Vincenzo, que tomava rapidamente. Rosa fazia o que podia para aquecer o menino, e ao mesmo tempo se mantinha forte e dava apoio ao marido, que tentava vender as últimas cabras da família para conseguir algum recurso.
Aos 8 meses de idade, Vincenzo começou a pronunciar suas primeiras palavras, o que deu um ânimo que só os filhos sabem dar aos pais, e depois de um ou dois meses, Giuseppe conseguira uma quantia significável, que poderia dar uma guinada na vida da família.
Mudaram-se para uma cidade próxima, que sofria com os ataques dos franceses, o que produzia certa insegurança, mas era a única maneira de sobreviver. O pai conseguira um trabalho e a mãe cuidava dos afazeres domésticos, enquanto o menino apenas observava tudo, atento.
Numa bela manhã, as coisas mudaram.
Vincenzo já conseguia pronunciar diversas palavras, e pela primeira vez atravessou a porta de casa para apreciar as vielas de seu bairro. Num descuido, um soldado francês, que estava perdido, pois fora dado como louco, avistou o menino e avançou em fúria para matá-lo. Vincenzo olhava e apenas sussurrava:
– Sofferenza… Sofferenza. (Sofrimento… Sofrimento).
Quando estava quase próximo do menino, Giuseppe chegou e martelou a cabeça do elemento, tirando-lhe a vida. Ao virar-se para Vincenzo, perguntou-lhe:
– Figlio, che è successo? (Filho, o que aconteceu?)
– Papà, ho visto la sofferenza! (Pai, eu vi o sofrimento).
– Cosa stai dicendo? (O que está dizendo?)
– Aveva le ali nere, le sue mani non avevano la pelle. (Ele tinha asas negras, e suas mãos não tinham pele).
– Sei pazzo! (Você está louco!)
– Papà, tu e la mamma ha anche le ali, ma le tue ali sono di colore bianco. (Papai, você e mamãe também têm asas, mas suas asas são brancas).
– Entrate ora! (Entre agora!)