Status de relacionamento: cansada!

Outro dia encontrei uma colega dos tempos do colégio. Trocamos alguns minutos de conversa na qual pude contar sobre as coisas do trabalho, ela me disse sobre o intercâmbio que fez um após se formar, e após um silêncio ensurdecedor, ela perguntou: ‘Mas e aí, você tá solteira, tá namorando?’

Na hora a única coisa que queria fazer era dar um longo suspiro, encher o peito de ar e esvaziar em seguida e responder: ‘nem solteira, nem namorando, meu status de relacionamento é cansada.’
É claro que eu não fiz isso, não poderia desabafar com uma estranha que não via há anos. Respondi formalmente e de um jeito desconcertante que estava conhecendo pessoas, mas no momento estava focada na minha carreira profissional, o que não deixa de ser verdade.

Entretanto, eu queria mesmo era suspirar e dizer o quanto estou cansada de tudo que envolve relacionamentos.
Dizer que após anos e anos jogando um jogo que eu sequer recebi instruções de como faze-lo, minha vontade atual é abandonar a partida e nunca mais pegar em controle algum.

Cansei de baixar e desinstalar aplicativos de relacionamento com mais rapidez do que troco de roupa. Cansei de conhecer casualmente o primo da vizinha da amiga do trabalho. Cansei de me preocupar com o melhor ângulo para postar uma foto nova no Instagram. Me preocupar com os mínimos detalhes sobre mim para passar a impressão certa.  Estou exausta de ler dicas sobre como não parecer intimidadora para os caras que conheci. Cansada pra caramba em receber manuais e mais manuais de como ser exatamente tudo que eu não sou. 

Olha, tem algo de muito errado nisso.
Se eu seguir todos os conselhos que leio em blogs e colocar em prática o que dizem nas rodinhas de conversa sobre como engatilhar um relacionamento sério, eu terei que me transformar numa versão totalmente diferente de mim.

Terei que fingir desprezo, não responder quando quero uma mensagem. Fazer carão pra câmera para sair do jeito certo nas fotos. Terei que fingir que não quero nada sério mas se o cara quiser algo sério aí eu preciso demonstrar que também quero, sempre sem exageros.

Não sei em que ponto se relacionar com as pessoas se tornou tão cansativo. Não sei em que momento a sociedade concordou com esses termos de uso e aceitamos que deveríamos tornar uma simples conversa sobre como foi o seu dia em um diálogo cheio de regras e suposições. Não sei mais enfrentar a liquidez dos relacionamentos atuais.

Não quero. Se for assim, eu não quero.

Meu status atual de relacionamento é cansada. Cansada de me fingir de morta para não assustar a ‘presa’. Cansada desse entra e sai de gente em minha vida que nunca cogitou a opção de ficar. Cansada de me achar desinteressante, não atraente, faladeira demais ou exagerada de menos. Cansada de pensar que todas as vezes o problema sou eu, porque é isso que fazem com a gente, bagunçam nossa vida, vão embora sem olhar para trás, sem ao menos bater a porta e deixam a gente com uma interrogação gigante ‘que foi que EU fiz?’ sempre eu, sempre o problema sou eu. Cansei de me sentir um problema e imaginar que preciso me reinventar para ser interessante. Não acredito nessa filosofia atual de um amor que não possui quase nada de humano, honesto em que as pessoas precisam se tornarem outras para conseguirem se encaixar na vida do outro.

Quero alguém que se responsabilize pelas suas falas, pelas suas chegadas e despedidas. Que saiba que pode ir embora a hora que quiser, não precisa me enganar e fingir amor por achar que não sei lidar com perdas e rejeição. Que seja seguro ao ponto de ver a minha segurança pessoal como qualidade e não como intimidação.

Que jogue conversa fora sem necessariamente precisar seguir um roteiro com a intenção de chegar a algum lugar. Alguém que eu possa contar as histórias tristes da infância e também sobre o dia que peguei o ônibus errado após às 22:00. Alguém que seja de verdade. Porque somos de verdade, todos nós, mas em algum momento decidimos que é melhor ser de mentira, porque assim a chance de rejeição é menor.

Eu ainda acredito no amor – menos estando um pouco descrente – eu ainda quero ser amada, cuidada e amar e cuidar na mesma proporção. Eu ainda quero  ser amada até parar de me sentir cansada e acreditar que devo amar de novo.

Texto de Larissa Pandori.
22 anos, garota do interior que puxa bem de leve o ‘R’ na hora de falar ‘porta’. Viciada em café recém passado, fascinada pela mulher maravilha, seriemaníaca de carteirinha, apaixonada pelo céu, pelo Sol, por cãezinhos, e pelo Danilo, é claro. Escreve também no blog O mundo da Lari.