Amar é sobre querer ficar

Não gosto de categorizar o amor como fácil ou difícil. Tudo é circunstancial e nós estamos falando de pessoas, de sentimentos, de rotina.

Só que é fácil amar o outro enquanto ele lhe faz uma surpresa no meio da semana. É fácil amar no silêncio da noite, encaixados um ao outro. É fácil amar quando ele sorri e durante as conversas intermináveis sobre política e temas banais. É fácil amar em um dia de Sol na praia tomando água de coco e batendo fotos para postar no Instagram.

Mas é difícil, não é? É difícil amar quando ele está com a cara emburrada na frente dos seus amigos e você nem sabe o porquê. É difícil amar quando está cansada do trabalho e ele quer ficar conversando sobre algum assunto que não te interessa. É difícil amar quando ele esquece aquele compromisso que você falou mil e uma vezes.

Na verdade, o amor em si é muito simples. Você sabe que ama aquela pessoa e pronto. Não tem mistério, perceber e assumir o que sente é até leve.

Mas além disso, amar é convivência. É qualidade e defeito. É insistir e ceder. É dia bom e dia ruim, às vezes as duas coisas em 24 horas. É abraço apertado e saudade que dói. É estresse, é calmaria, é briga e muita risada.

E é justamente por esse emaranhado de momentos e sensações que as pessoas se perdem. É pelo medo ou por subestimar que a gente se engana com a ideia de amar. Não é tão difícil quanto dizem nem tão fácil quanto a gente gostaria, é um pouco mais óbvio que isso: é tudo uma questão de querer fazer dar certo.

Entre limitações e suas superações, amar é sobre querer ficar e cada vez mais evoluir – juntos.

Autora: Maria Carolina Araújo | Miragem Real

Eu não sou uma má namorada

Eu não sou uma má namorada.
Não precisa falar comigo 24 horas.
Pode jogar.
Pode sair com seus amigos.
Pode curtir a foto dos outros.
Pode falar com quem quiser.
Só não quero que tu fume maconha. 

Eu não sou uma má namorada.

Pode ir sozinho, amor. To cansada, vou ficar em casa hoje.
Eu não sou uma má namorada.
Passa horas sem me responder ou dar notícias. Não conseguia pegar no sono por preocupação.
4 horas da manhã você me responde dizendo que estava numa festa com os amigos. Fingi não ligar pra não brigar com você, mas custava avisar?
 Disse que não sabia que iria pra festa, que seus amigos decidiram de última hora.
Disse que não tinha feito nada, nem me traído, que não tinha motivos pra eu ficar encanada.
Disse que se eu não confiava em você não tinha motivo pra estarmos juntos.
Eu não sou uma má namorada. Acreditei em você.

Eu não sou uma má namorada. 

As suas amigas ficavam rindo de mim nas minhas costas.
Ainda assim acreditei em você.
Eu não sou uma má namorada.
Vi você trocando fotos e de papo com uma amiga.
Para de falar com ela, você tem namorada.
Vi você de papo com mais outra.
E você me apresentou a insegurança.
Eu não sou uma má namorada.
Descobri a verdade. Você já tinha combinado de ir naquela festa com seus amigos e as amigas. 
Você baixou a cabeça e disse que não sabia o que dizer.
Eu disse: “deixa pra lá, faz tempo. “

Eu não sou uma má namorada.

Vou no shopping com a minha mãe. Vou na minha avó. O cara da internet ta aqui em casa. Vou comer. Vou tomar banho. Vou dormir. Mas ia jogar?
E pra que mentir? Me senti mal. Deixa o jogo um pouco pra lá. 
Eu não sou uma má namorada.
Vou dormir, tenho que ir pra aula amanhã cedo. 
Mas eu to de férias, amor, fica mais um pouco.
Eu tenho que ir, amor. Desculpa.
Mas ia jogar. Tudo bem. Eu desisto. Fica com esse jogo.

Eu não sou uma má namorada. 

Você começou a inventar desculpas, qualquer coisa era mais importante do que falar comigo.
Eu não sou uma má namorada.
Mas ainda confiava em você.
Eu não sou uma má namorada.
Sempre que ia na sua casa, você ficava jogando ou dormia. E eu chorava por dentro por não me dar atenção e preferir um jogo do que o meu amor.
Eu não sou uma má namorada, você que me tornou.
Para de falar com suas amigas.
Da unfollow.
Exclui.
Me da todas as suas senhas.
Não vai sair com amigo não.
Não vai dormir na casa dele não.
Fica em casa. Vai jogar. 

Eu não sou uma má namorada.

Você terminou comigo porque disse que não me amava. 
Eu chorei desesperada por não entender sua explicação, que pra mim não faz sentido até hoje. 
Esperei você se arrepender e mudar de ideia, mas não mudou.
Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque não sabia o que queria.
Eu não sou uma má namorada. Você terminou comigo porque queria ter seus amigos de volta e sua fama de pegador.
Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque não queria mais que fossemos só nós dois no mundo.
Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque disse que ainda não tinha esquecido a sua ex.
Eu não sou uma má namorada, você que me tornou.

Eu não sou uma má namorada, você que me colocou defeitos.Você que me apresentou a insegurança. Acabou com a confiança. Apresentou a falta dela. 

Você que acabou com o namoro bom, livre, e saudável que eu te dei. Você que trouxe o sufoco, as brigas, o desgaste dele.
E o pior.
Colocou tudo em cima de mim, como se eu tivesse danificado a gente, enquanto você que tinha feito isso. Eu nunca deixei a gente apesar dos teus erros, por não ter colocado todos esses motivos acima como os primórdios. Eu preferi nos filtrar.
Deixar os momentos bons pesarem mais, por que estes me fazem sorrir. 
Por mais que depois que eu virasse as coisas você esquecesse que eu existia.

Decidi seguir a frase que o humano erra.
Decidi te dar todas as chances do mundo de mudar.
Decidi te ensinar com amor.
Preferi acreditar que você ia amadurecer com os erros.
Preferi milhares de coisas.
Até que preferi morrer. E renascer.
E renascendo, sou outra.
E sendo outra,
não existe mais nada disso.

Autora: Sabrina Sá
Imagem: Karyna Rangel

Somos verdadeiramente fortes quando reconhecemos nossas fraquezas

Somos verdadeiramente fortes quando reconhecemos nossas fraquezas. Talvez, isso soe um tanto contraditório no primeiro momento, mas trata-se de uma verdade, muitas vezes, mal compreendida e ignorada. Em tempos que ouvimos discursos do quanto somos independentes e fortes por si mesmas, nossa compreensão acerca de nossas fraquezas e pecados pode tornar-se deturpada por muitas de nós.

O apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 12, relata a sua experiência ao ser arrebatado ao terceiro céu. Para que ele não se vangloriasse diante dos homens, foi lhe dado um espinho na carne, com a permissão de Deus. Para muitos, não se sabe ao certo o que de fato era esse espinho, apenas que causava grande sofrimento a Paulo. Três vezes ele pediu ao Senhor para que o espinho fosse tirado, mas a resposta ao apóstolo foi a seguinte: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (v. 9)

A resposta do próprio Deus à Paulo desfaz qualquer afirmação equivocada e egocêntrica de que somos independentes sem Ele e do quão vergonhoso é reconhecer nossas fraquezas e pecados. O apóstolo, sendo falho, poderia ter agido com tamanha ingratidão após seu pedido ter sido recusado por Deus, no entanto, o que ele escreve a seguir é uma das mais belas passagens bíblicas acerca de nossas fraquezas: “Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.” (v. 9-10)

Como é possível um homem que sofria contantes perseguições e grande sofrimento de seu espinho na carne, alegrar-se nas fraquezas? Diferente do que nos é dito e ensinado, que bastamos a nós mesmas e somos poderosas, Deus nos mostra, através de Paulo, que nada podemos sem a Sua graça. Há um sentido muito mais profundo e verdadeiro quando compreendemos isso. Paulo compreendeu e escreveu: “Pois, quando sou fraco é que sou forte.” (v. 10.) Ele sabia que era a graça de Deus, e somente a graça de Deus, que o tornava forte, e não porque havia em si mesmo alguma força.

A Palavra de Deus, a qual deve conduzir nossa vida, nos ensina que somos verdadeiramente fortes quando reconhecemos verdadeiramente nossas fraquezas e pecados. Não bastamos a nós mesmas, mas é a Graça de nosso Senhor que nos basta. Essa é a nossa verdadeira força.

Cada milissegundo da sua dor produz um peso eterno de glória

“Though you slay me”, Shane & Shane com a participação do amado pastor americano John Piper, é uma de minhas músicas favoritas. Eu passei a ouvi-la constantemente em um momento difícil que estava vivendo e desde então tem feito parte da maioria dos meus dias. É uma das poucas músicas bíblicas, cristocêntricas e que são um consolo para mim. A letra fala sobre nossos sofrimentos terrenos e os propósitos que têm, e que independentemente de quantas lágrimas derramemos nesta vida, devo cantar louvores Àquele que se sacrificou. Ao olhar para Cristo, e não somente para meu sofrimento, posso contemplar a esperança de que não se trata da ausência das aflições, mas da Sua presença nas aflições. 

Homens como Jó, Elias, Charles Spurgeon e C. S. Lewis caminharam pela estrada da aflição e alguns destes pela depressão de espírito. Da mesma maneira, eu estou sujeita a caminhar por essa estrada. Todos nós estamos. Todos nós passaremos ou estamos passando por ela. E fará toda diferença se estamos olhando para Cristo ou para a escuridão que nos cerca, procurando desesperadamente por qualquer feixe de luz, quando Ele é a fonte que dá vida à luz que tanto buscamos. Queremos e admiramos a luz de uma estrela de nêutrons – embora seja um dos corpos celestes mais brutais – não porque tem um quê de majestosa, mas porque estamos olhando para a direção errada, ao invés de olharmos para Seu Criador.

Quando não mantemos nossos olhos em Cristo em meio às aflições dessa vida, toda ideia e certeza que temos de que há um propósito para nosso sofrimento e de que ele é momentâneo se enfraquece. Somos encurralados pelas incertezas que desfalecem a nossa mente. Estamos sujeitos às aflições, nossa fé é provada, mas não é preciso que entre em um colapso brutal com nosso sofrimento. Ao se encontrarem, nossa fé e sofrimento podem nos trazer ainda mais fortemente o consolo de que Cristo é a fonte de toda nossa esperança, inclusive nos dias mais sombrios.

Em sua participação na música, John Piper diz:

“Não só toda sua aflição é momentânea, não é só toda a sua aflição leve em comparação a eternidade e a glória lá (no Céu), como também tudo isso é cheio de propósito. Cada milissegundo da sua dor advinda da natureza caída ou do homem caído, cada milissegundo de sua miséria no caminho da obediência está produzindo uma glória peculiar que você terá por conta disso. Não importa se foi câncer ou crítica. Não importa se foi calúnia ou doença. Isso não foi sem sentido. Isso está fazendo algo! Não é sem sentido. Claro que você não pode ver o que isso está produzindo. Não olhe para o que parece. Quando sua mãe morre, quando seu filho morre, quando você tem câncer aos 40 anos, quando um carro vai em direção a calçada e a joga para fora, não diga “Isso é sem propósito!” Não é. Isso está gerando para você um peso eterno de glória. Portanto, não desanime. Mas tome essas verdades e todos os dias concentre-se nelas. Pregue-as para si mesmo todas as manhãs. Fique sozinho com Deus e pregue a Palavra d’Ele para sua mente até que seu coração cante com a confiança de que você é uma nova criatura e de que é cuidado por Deus.”

Não é sem sentido. Como John Piper disse, cada milissegundo da nossa dor tem um propósito e está produzindo um peso eterno de glória. Não sabemos quando o sofrimento chega nessa vida, assim como não sabemos quando se vai. A estrada da aflição pode não nos avisar que está próxima, mas não é nosso destino final. Nossas aflições, por mais duras que sejam, são momentâneas, e não se comparam com a eternidade e a glória que virá.

Uma concha para se proteger

O caracol não é um animal de grande beleza ou da qual eu gostaria de ter contato, mas confesso que enquanto pensava em alguns acontecimentos que me causaram e causam desconforto, pude perceber o quanto tenho em comum com ele. Os caracóis são pequenos, lentos e têm uma concha que é capaz de protegê-los. Ao se sentirem em perigo, esses pequenos animais se encolhem e se escondem em suas conchas, saindo novamente apenas quando não há mais sinal de risco para eles. Em todas as características que pensei e citei desses pequenos bichinhos, tenho para mim que possuo cada uma delas.

Pequena

Essa característica não se trata do fato de eu ter um metro e meio de altura. Quando afirmo que sou pequena, quero dizer primeiramente em questões espirituais e eternas. Não existe possibilidade alguma de que eu tenha, ainda como filha e serva, medidas próximas às “medidas criadas” para Deus. Não é possível de minha mente entender por completo a grandiosidade de Deus e não há nada em mim que possa ser comparado a Ele. Assim como Paulo, não devo me vangloriar, pois não há nada em mim para ser vangloriado. O fato de que não posso nem mesmo salvar a mim mesma do pecado é uma irrefutável prova de que não há nada de grandioso em mim por si só, senão Aquele que a tudo conhece e tem sob seu poder.

Lenta

Minha lentidão, em certo sentido, pode ser fruto da sabedoria, como Lucas escreveu: “… seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (v.19) Mas aqui quero dizê-la como um desastroso defeito, principalmente no que se refere às coisas cotidianas, eternas e por mim amadas. Tenho muitos arrependimentos causados por minha lentidão, momentos que exigiam sabedoria da minha parte para decisões e ações, mas que foram deixados para depois, depois e depois. Não é impossível de imaginar o quão ruim é deixar o eterno e o amado para depois; algumas marcas frutos disso desaparecem com o tempo, outras não posso dizer o mesmo.

Travo uma luta com minha lentidão para que isso não se repita, mas admito que em muitas delas o cômodo é apenas deixar para depois. Mas há um perigo real nisso. No que diz respeito ao eterno e ao amado, quanto mais é deixado para depois, mais arrependimentos crescem. Duramente, isso é aprendido, até chegar o momento de dizer as palavras que Billy Graham sabiamente dizia: “Ó Deus, perdoe-me, ajuda-me, socorra-me!”. Com isso, peço a Deus humildemente que me ajude a ser lenta para o falar e o irar, mas não para buscá-Lo e glorificá-Lo.

Uma concha para se proteger

Essa é a característica que mais tenho em comum com os caracóis, sendo a primeira em que pensei. Não tenho o hábito de expor minhas lutas, sejam emocionais, mentais ou espirituais. Creio que sabedoria é poder dizer aquilo que as lutas me ensinam, mas não é muito prudente expor detalhes de cada uma delas – exceto para aqueles que são próximos. E é aqui que os caracóis são um exemplo. Esses pequenos bichinhos se escondem em suas conchas ao menor sinal de perigo. Não sou diferente, tendo a agir da mesma forma. Quando algo ocorre, me causando desânimo, angústia e certa preocupação, eu me retraio em minha própria concha. Milhares de perguntas e dúvidas surgem em minha mente e meu coração, grande parte das vezes sem resposta, se abate por conta disso. Como um caracol que se sente ameaçado, eu me escondo. Ele não se expoe a um perigo maior do que possa lidar, mas se retrai para dentro de sua concha ao menor sinal dele. É instintivo e natural. Pode soar um tanto covarde, mas, na verdade, a concha é uma “reviravolta”.

Quando me sinto ameaçada e desanimada, me escondo em Deus, isso me mostra dependência dEle – não significa, é claro, que Ele não me ensinará a passar por provações ou me tratará como uma filha mimada. No livro de Josué conta a história de um homem temente a Deus e líder do povo de Israel. Josué havia liderado inúmeras guerras, mas não entrava em nenhuma delas sem que se retirasse para estar sozinho com Deus e ouvir suas ordens. Como homem, creio que Josué sentiu medo e preocupação. Ele não fugiu de suas lutas, mas se recolhia para sua concha, para ouvir atentamente a voz de Deus e apenas após ouvi-la cumprir com suas instruções. Esse é o grande X da questão.

Eu havia dito que me retraio em minha própria concha, mas devo me corrigir: Deus é minha concha. Eu me retraio para Ele. Deus me recebe em sua presença. Minha fragilidade me faz reconhecer que só há um lugar para onde posso ir.

Na vida cristã, caracóis não são apenas caracóis. Conchas não são apenas conchas.