O cinza dos seus olhos tem a cor da minha felicidade

Seus olhos eram cinzentos.
Antes de te conhecer, relacionava o tom de chumbo com coisas mórbidas, frias. Um céu cinza, tempestade. A tempestade que destrói passeios alegres no parque enquanto crianças brincam e casais passeiam, a chuva que faz você correr para alcançar o trabalho e pode destruir seus melhores planos. A cor das cinzas de um fogo que se apagou e que deteriorou a madeira, transformando-a em uma substancia sem traços de calor. O metal que afasta e a incompreensão inicial de filmes antigos e sem voz. A frieza do inverno e de uma vida sem cor. Ou melhor, uma única cor.

Cinza.
Mas então, através dos seus olhos, pude presenciar muito mais do que aquilo que pensava. Parece bobo, mas nunca tinha conectado essa cor com algo bom. Eu evitava até mesmo usá-la. Tenho quase certeza que a única roupa que tinha dessa cor era um blusão tricotado por minha avó, um exemplar cheio de furos e que cheirava mofo no fundo da gaveta, atropelado por uma centena de roupas com espectro vermelho, prata e laranja. Eu me considerava uma pessoa enérgica que buscava cores vivas e não enxergava alegria nesse tom.
Mas então você surgiu e sorriu, mostrou felicidade apenas com um olhar carregado da poeira cinzenta do mistério e da amizade.

Foi como se uma parede dentro de mim desmoronasse.
Conforme eu passava os dias com você, entre trocas de e-mails, mensagens noturnas e cafés não programados no centro, comecei a perceber todas as coisas maravilhosas que tinham a cor e a verdade dos seus olhos.
Coincidência ou não, nosso primeiro encontro foi na estação mais fria do ano. E pela primeira vez não pensei em tristeza, mas na magia daquelas cores pálidas refletidas em um sol muito baixo, mas perfeito para iluminar a chama de um beijo.

E o cinza-asfalto do seu casaco, impregnado com seu cheiro? Eu poderia simplesmente me perder ali entre seus braços aquecidos e promessas de um hoje.

Alguns relacionavam o cinza com o velho e obsoleto, mas nunca havia me sentido tão jovem enquanto me entregava a você e ao seu olhar.

Comecei a apreciar dias de tempestade. Nuvens nebulosas me lembravam de suas palavras, a eletricidade das nuvens o seu olhar que me despertava. E a chuva? Os beijos que você me roubava enquanto todo o resto desaparecia, enquanto o mundo corria e se protegia e tudo que queríamos era continuar.

E eu pensava que o dourado era a cor mais alegre e triste, que o cinza era apenas para dias de luto e melancolia.

É você realmente conseguiu me provar o contrário.

Autora: Vanessa Silvana